quinta-feira, 20 de agosto de 2009

A morte das pessoas

Quando nascemos, temos certeza de que um dia morreremos.
É decididamente dificílimo lidarmos com o imutável.
Passamos a vida pensando ...como vamos morrer.
Levamos uma vida inteira nos debatendo sobre as incertezas do fim.
O fim é algo indecifrável...
Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos?...
Levamos nossos dias tentando responder infinitas perguntas sobre o viver...
Tentando achar meios de viver; de viver o que não é real; de tornar real o que sonhamos; de sonhar o que podemos...

Hoje entendo que, de fato, o que mais dói é a morte do Outro.
É o Outro que nos faz vivos.
É no Outro que nos encontramos.
É no Outro que nos perdemos.
É pelo Outro que buscamos.
É na morte do Outro que morremos.

Quando se morre, simplesmente... acaba. Não há mais sofrimento. Não há mais o que lutar. Não há mais o que sentir. Não há mais o que sofrer. Não há mais o que viver.
Quando morremos, fechamos nossos olhos para essa existência. Saímos desse tempo que “pesa”.
Deixamos para os Outros o sofrimento.
Um dos legados da vida.

Quando o "tu" morre, leva uma parte de nós. Nos sepulta em vida. Continuamos a morrer.
Quando o Outro morre, morremos junto. Nós morremos também. O "eu" morre.
Não existe o eu, sem o tu.
Mas existem muitos “tus”...
Mas existem muitos “eus”...
Por isso continuamos a viver.
A morte não desobedece à vida.
A morte foi criada pelos "nós"...
E contraditoriamente cria nós.
Desenlace ou enlace?
Separação ou encontro?
Como lidar com a dor da perda do Outro, quando sabemos que quem está morrendo somos "nós".
Tenho a impressão que nascemos a cada dia. Pois a cada dia morremos.

Melissa Coutinho

Um comentário:

  1. Mel
    Este texto me levou a muitas reflexões... Parabéns menina.
    Diante desta realidade que não podemos mudar, vamos viver intensamente os momentos de alegria que a vida nos proporciona.

    ResponderExcluir