quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Para o dia do Psicólogo: um Médico. Eu protesto!

Acabei de chegar da comemoração do dia do Psicólogo em uma Faculdade de Psicologia. Eis que o mestre de cerimônia apresenta o palestrante convidado: um médico psiquiatra. Tema da palestra: a CLÍNICA com pacientes dependentes de substâncias psicoativas, não exatamente isto, mas algo semelhante. Que tipo de clínica o nobre palestrante pretendia descrever? Óbvio, que a clínica médica. No decorrer da descrição, por sinal, muito bem fundamentada, apareceram pequenas pontuações que sinalizavam a pessoa, suas relações e o contexto, mas que com certeza, foram FUNDO. A FIGURA era uma reflexão sobre as substâncias, seus efeitos, as questões da abstinência, do diagnóstico etc. Do que se trata efetivamente a clínica do psicólogo em relação a este fenômeno? Já que diferentemente do psiquiatra, ele não prescreve substâncias? Aí, eu me pergunto e pergunto a vocês: no dia do psicólogo, no contexto de formação e construção de subjetividade destes profissionais, houve alguma reflexão sobre a sua prática? Sofrimento psíquico, subjetividade, intersubjetividade, o significado do consumo, o contexto do uso de drogas e o sentido que ele tem na cultura atual, o simbólico, o afetivo, as vivências, enfim, os mais diversos e ricos temas PSICOLÓGICOS que perpassam a RELAÇÃO DESTRUTIVA de uma PESSOA com a substância, apareceram como coadjuvantes, ou quase desapareceram neste cenário. Que fique bem claro, que esta não é uma crítica ao profissional convidado e nem o conteúdo da sua explanação, pois esta foi muito boa e, de fato, com um recorte coerente com a prática dele. A minha questão é com os futuros profissionais em psicologia que fizeram esta escolha. Penso que não se deram conta do que podem estar dizendo sobre a construção da sua identidade profissional. Reconhecer e validar o seu saber, o diferencial e a importância da sua prática é parte fundamental da construção do SER psicólogo que, como eu costumo dizer, vai muito além da aquisição de técnicas e de um conhecimento intelectual. Para continuarmos ampliando o nosso espaço de atuação na nossa sociedade, é extremamente relevante nos apropriamos do nosso lugar e conhecermos a nossa singularidade em relação as outras profissões. Isto não implica em nos considerarmos melhores ou piores que qualquer outro profissional, mas delimitarmos a nossa especificidade com consistência teórica que precisa ser compreendida e debatida sempre. No dia do psicólogo o tempo dedicado a PSICOLOGIA foi: cinco minutos em uma oração trazida pela coordenadora do curso para abrir o evento. Eu protesto!
Priscila Lima

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